Eu só ando em frentesó vejo o que está diantedo meu campo de visãose passou, não existe mais não.Sigo reto sem desviarnada pode obstaculizaro caminho feito com astúciade um ser firme na inércia.Percorro uma só viaque me leva à companhiade outros seres em movimento, porémretilíneo como eu, não vai ninguém.Contemplo rios, florestasmares, ilhas, cascatasusufruo tudo com apreçoao cruzá-los, logo esqueço.
Num prumo impecávelchego a uma cidade improvávelpois me parece familiardeixo pra lá e toco a andar.Eis que no mesmo caminhode costas para mim há alguém esguioparado sem movimentosem dar-se conta de meu intento.Com força dou-lhe um chute no traseirodigo: “Sai da frente, companheiro!”Lentamente ele se vira e fico pasmoseu rosto... sou eu mesmo!Ele diz: “Ninguém te avisou?Você partiu daqui onde estou,o mundo é redondo, meu camarada;não importa esta ou aquela estrada.”
Pego um atalho que me devolve à mesma estradaplenamente ciente que não vai dar em nada.“O mundo é redondo”, pensei bem,então quico três vezes e chuto pro além!
